O normal e o normalizado quando o assunto é saúde
Postado por admin no dia 01/04/2024
Dr. Marcelo Moretto e Dr. Cláudio Teloken, ginecologista e urologista do Fertilitat, respectivamente
Vivemos em uma sociedade com múltiplos critérios de beleza. Poucos preocupam tanto quanto o padrão “fitness”, onde se reduz a gordura corporal ao mínimo e se hipertrofiam os músculos. Homens e mulheres são geneticamente diferentes, com padrões hormonais distintos. Ambos produzem estrogênio, progesterona e testosterona. As mulheres têm a testosterona baixa, e níveis variáveis de estrogênio e progesterona. Os homens, por sua vez, têm testosterona alta e menor variação hormonal.
O uso de anabolizantes androgênicos, similares à testosterona, em doses elevadas reduzem a porcentagem de gordura e hipertrofiam a musculatura. Como os efeitos dessas substâncias têm caráter transitório, diminuindo com o tempo, o uso prolongado dos “ciclos” é cada vez mais comum. Os efeitos colaterais existem e são mais ou menos intensos conforme a droga, a dose, a via de administração, o tempo de uso e o sexo.
Mulheres sofrem com acne, queda de cabelos, excesso de pelos corporais, mudança do timbre da voz, hipertrofia do clitóris (ambas irreversíveis), atrofia das mamas, aumento do colesterol, aumento do risco de trombose, de doenças cardíacas, renais e de tumores. Eles causam interrupção da ovulação, e em caso de gestação, malformações fetais, especialmente em meninas. Homens são suscetíveis à acne, calvície, ginecomastia, aumento do colesterol, do risco de trombose, de doenças cardíacas, renais e de tumores diversos. Causam ainda a diminuição ou interrupção da espermatogênese, que pode ser irreversível. Ambos os sexos percebem também um aumento na agressividade.
O “chip da beleza” é outra ameaça. “Modulação hormonal”, “harmonização hormonal” ou “hormonologia” não têm registro na Anvisa nem estudos científicos que garantam seus efeitos. Ou seja, não existe bula, não se sabe a composição real destes implantes. As usuárias, seduzidas por possíveis benefícios estéticos, embarcam nessa jornada por sua conta e risco. Alguns médicos, dentistas, biomédicos, personal trainers… “receitam” e aplicam esse tratamento ferindo o Conselho Federal de Medicina, que proibiu a prática*.
A busca de um corpo bonito é recomendada. Porém, não podemos normalizar o uso dos anabolizantes e do “chip da beleza”. Estes tratamentos são repudiados por todas as entidades médicas sérias do planeta. O imediatismo na busca de resultados estéticos ou de performance não pode normalizar práticas que coloquem em risco aquilo que é mais precioso, a saúde.
* Conselho Federal de Medicina – Resolução n. 2.333/23 de 11/04/2023.