Artigo: A tão falada, tão temida e tão desconhecida falha de implantação
Postado por admin no dia 24/05/2023
Por Rafaella Petracco, Ginecologista do Fertilitat
Se formos totalmente acadêmicos, o conceito de falha de implantação seria a ausência de gestação após a transferência de quatro embriões de boa qualidade, em três transferências embrionárias, em pacientes com menos de 40 anos. Mas até mesmo esse conceito é questionado. Na realidade, temos duas grandes dúvidas: quando na prática devemos realmente investigar; e o que pode estar dando errado?
Vamos começar respondendo à primeira pergunta. Algumas pacientes têm o desejo de investigar a falha de implantação antes mesmo da primeira tentativa para engravidar através de FIV. Mas temos de ter claro que estamos falando de tratamento médico com indicações, riscos e benefícios. Por isso, esse fatores devem ser levados em conta na hora de decidir iniciar a investigação.
Dra. Rafaella Petracco
Quanto ao que pode estar dando errado ainda não temos esta resposta. Algumas condições, porém, estão ligadas – e comprovadamente relacionadas – à falha de implantação; mas para outras, talvez, nunca tenhamos evidências científicas.
Cerca de um terço das falhas repetidas de implantação estão ligadas a questões embrionárias. Todos nós somos capazes de formar embriões aneuploides. Essa taxa aumenta significativamente com a idade dos gametas (principalmente do óvulo). Grande parte desses embriões alterados geneticamente, por uma questão de seleção natural, não vão implantar no útero. Quando eles não são geneticamente testados (o que é indicado somente para algumas pacientes), não é possível garantir que essa seja a causa do insucesso. Ademais, é preciso ter um útero receptivo – os outros dois terços das falhas podem estar relacionados a isso.
As trombofilias estão entre as causas mais conhecidas e mais prevalentes. Elas são alterações sanguíneas que impedem um fluxo de sangue adequado para o útero no momento da implantação. As pacientes com esse diagnóstico têm um risco aumentado de formar pequenos trombos e necessitam de tratamento específico para melhorar a vascularização uterina.
Alterações anatômicas como pólipos, miomas e sinéquias também estão relacionadas com falhas e devem ser tratadas quando visualizadas ou suspeitadas. Podemos ter também causas infecciosas, como a endometrite.
Além dessas causas, sobre as quais encontra-se respaldo na literatura médica, há algumas possibilidades discutíveis e com pouca evidência científica, como influência da alimentação e de processos inflamatórios e a incompatibilidade ou rejeição por parte do útero, devido a células desconhecidas que formam o embrião e são oriundas das células paternas.
O que podemos concluir é que a individualidade de cada caso segue sendo premissa básica para o sucesso do tratamento. Sempre com embasamento do que pode de fato auxiliar a implantação e de acordo com cada paciente.